sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Extrato do Tratado de devoção à SS Virgem - São Luis Maria Grignon de Monfort



 

 

Porei inimizades entre ti e a mulher, entre a tua descendência



e a d'Ela; Ela te esmagará a cabeça, e tu armarás



ciladas ao seu calcanhar” (Gn 3, 15).


52. Deus nunca estabeleceu e formou senão uma única inimizade,
mas esta irreconciliável, devendo durar e mesmo aumentar
até o fim. É a inimizade entre Maria, sua digna Mãe, e
o demônio; entre os filhos e servos da Santíssima Virgem e os
filhos e satélites de Lúcifer. Deste modo, o inimigo mais terrível
que Deus constituíu contra o demônio é Maria, sua Santa
Mãe. E Maria, ainda existindo apenas na mente de Deus,
foi por Ele dotada, desde o Paraíso Terrestre, de tanto ódio
contra este maldito inimigo, tanta diligência em descobrir a
malícia desta antiga serpente, tanta força para vencer, aniquilar
e esmagar este ímpio orgulhoso, que este a teme, não só
mais que a todos os anjos e homens, mas, num certo sentido,
 mais do que ao próprio Deus. Não é que a ira, o ódio e o
poder de Deus não sejam infinitamente superiores aos da
Santíssima Virgem, visto as perfeições d'Ela serem limitadas.
Mas é que:
Em primeiro lugar, Satanás, sendo orgulhoso, sofre
infinitamente mais em ser vencido e castigado por uma pequena
e humilde serva de Deus, e a humildade desta humilhao
mais que o poder divino.
Em segundo lugar, Deus conferiu a Maria um tão grande
poder sobre os demônios, que eles temem mais um único dos
Seus suspiros por alguma alma, que as orações de todos os
santos, e uma só das suas ameaças, mais que qualquer outro
tormento. Isto foram eles obrigados a confessar muitas vezes,
ainda que de má vontade, pela boca dos possessos.


53. O que Lúcifer perdeu por orgulho, ganhou-o Maria pela
sua humildade; o que Eva condenou e perdeu pela desobediência,
salvou-o Maria obedecendo. Eva, ao obedecer à serpente,
perdeu consigo todos os seus filhos e entregou-os ao
demônio. Maria, tendo sido perfeitamente fiel a Deus, salvou
juntamente consigo todos os Seus filhos e servos, e consagrou-
os à Divina Majestade (Santo Irineu).


54. Deus constituiu não somente uma inimizade, mas “inimizades”,
não apenas entre Maria e o demônio, mas também
entre a descendência da Virgem Santa e a de Satanás. Isto
quer dizer que Deus estabeleceu inimizades, antipatias e ódios
secretos entre os verdadeiros filhos e servos da Santíssima
Virgem e os filhos e escravos do demônio: eles não se amam,
nem têm qualquer correspondência interior uns com os outros.
Os filhos de Belial (Dt 13, 13), os escravos de Satanás,
os amigos do mundo (não há diferença), até hoje perseguiram
sempre, e perseguirão mais do que nunca, aqueles que pertencem
à Santíssima Virgem, como outrora Caim perseguiu
seu irmão Abel, e Esaú perseguiu Jacó, figuras dos réprobos e
dos predestinados. Mas a humilde Maria alcançará sempre a
vitória sobre este orgulhoso, e essa vitória será tão grande
que chegará a esborrachar-lhe a cabeça, onde reside o seu
orgulho. Ela descobrirá sempre a sua malícia de serpente, e
porá a descoberto as suas tramas infernais. Dissipará os seus
conselhos e protegerá, até o fim dos tempos, os Seus servos
fiéis contra aquelas garras cruéis.
Mas o poder de Maria sobre todos os demônios brilhará
particularmente nos últimos tempos, em que Satanás armará
ciladas contra o seu calcanhar, ou seja, contra os humildes
escravos e pobres filhos, que Ela suscitará para lhe fazer guerra.
Eles serão pequenos e pobres na opinião do mundo, humilhados
perante todos, calcados e perseguidos como o calcanhar
o é em relação aos outros membros do corpo. Mas, em
troca, serão ricos da graça de Deus, que Maria lhes distribuirá
abundantemente. Serão grandes e de elevada santidade diante
de Deus, e superiores a toda criatura pelo seu zelo ardente.
Estarão tão fortemente apoiados no socorro divino que esmagarão,
com a humildade de seu calcanhar e em união com
Maria, a cabeça do demônio, fazendo triunfar Jesus Cristo.

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