domingo, 28 de setembro de 2014

O silêncio e a simplicidade do Rosário




Os que são de fora do Terebinto se surpreendem com essa forma simples, mas intensa de rezar. Mas a
 oração e a meditação do Rosário será assim tão simples, sem importância? Notamos nos nossos grupos que quem substima essa oração vive a mesma experiência de São Paulo: "caem do cavalo do orgulho'."

Sobre o Rosário

A oração do Rosário é vocal, que compreende a repetição em cada dezena do Pai Nosso e das Ave Marias; e a oração mental que é a meditação dos mistérios de Cristo do Evangelho. "A oração mental é silêncio...." (Catecismo, 2717).
A Carta Apostólica do Papa São João Paulo II enfatiza a oração do Rosário da Virgem Maria destaca, entre outros aspectos que essa forma de orar está "destinada a produzir frutos de santidade", "oração cristológica", "nele a profundidade de toda a mensagem evangélica, da qual é quase um compêndio", "o povo cristão frequenta a escola de Maria", etc.

Como rezar? São Paulo nos diz: "....porque não sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inefáveis". Rom 8; 26. 

O silêncio, a simplicidade e também a quietude auxiliam a oração, em particular do Rosário.

-QUIETUDE. A quietude é a tranquilidade do espírito, paz e sossego. É a imobilidade não só física, principalmente a ausência de agitação, mas tem dimensões exteriores e interiores. Assim a quietude aprofunda o silêncio e a meditação da oração.

-SIMPLICIDADE. Ser simples significa ser autêntico.
Em Mateus 10;16 Jesus exorta "Sede, pois, prudentes como as serpentes, mas simples como as pombas".
Em Lucas 18;17 Jesus diz "Deixai vir a mim as criancinhas e não as impeçais, porque o reino de Deus é daqueles que se parecem com elas".
Jesus revelou que o reino de Deus está dentro de nós,  portanto, simplicidade nas coisas exteriores.

SILÊNCIO. O silêncio é insuportável ao homem exterior, principalmente nestes tempos modernos.
Em Oseias 2,16 o Senhor diz: "...conduzi-la-ei ao deserto e falar-lhe-ei ao coração". Ora o deserto é lugar de silêncio,  entre outras coisas.
E Jesus recomenda aos discípulos "Vinde a parte, para algum lugar deserto, e descansai um pouco". Mar 6;21. E noutra passagem, em Lucas 4;42: "Ao amanhecer, ele saiu e retirou-se para um lugar afastado". O silêncio, longe do mundo, aparece em muitas outras passagens.
O silêncio entre duas pessoas é sinal de confiança.
A vida interior poderia só consistir no silêncio.
O silêncio é verdade, cura,  pacifica nossas perturbações. 

Em Provérbios 10;19 Deus fala que "não pode faltar o pecado num caudal de palavras, quem modera os lábios é um homem prudente".

Os 12 graus do silêncio

O silêncio, segundo a Irmã Dorothee Quoniam (1839-1874), tem 12 graus. Vamos conhecê-los.

1) falar pouco as criaturas e muito a Deus
-Silêncio em relação ao mundo. Silêncio sobre as notícias. Silêncio com as almas mais santas. Silêncio da língua. 

2) silêncio no trabalho e nos movimentos
-Silêncio do andar. Silêncio dos olhos, dos ouvidos, da voz. Silêncio de todo exterior preparando a alma para unir-se a Deus. Afasta-se do ruído. É o silêncio do recolhimento.

3) silêncio da imaginação
-Substituir as perturbações, tristezas, impressões pela imagem do Céu, do Senhor, da Paixão de Cristo, das perfeições do Céu.

4) silêncio da memória
-Silêncio sobre o passado, esquecimento das lembranças negativas. É preciso saturar essa faculdade com as misericórdias de Deus.

5) silêncio em relação as criaturas
-A alma surpreender-se-à muitas vezes conversando interiormente com as criaturas. Até os santos lamentavam-se dessa humilhação. Pouco a pouco as coisas da terra cessarão de distrair a alma.

6) silêncio do coração
-Se a língua se cala (1), se os sentidos se acalmam (2), se a imaginação (3), se a memória (4), se as criaturas (5) se calam, então a solidão se faz, ao menos no íntimo dessa alma. Haverá então pouco ruído no coração.  Silêncio das afeições, das antipatias, dos desejos demasiadamente ardentes, silêncio de um fervor exagerado, silêncio dos suspiros.
-É o silêncio do amor. É o silêncio diante de Deus.
-A lamparina consome-se silenciosa diante do tabernáculo.

7) silêncio da própria natureza e do amor próprio
-Silêncio da alma que se compraz na sua baixeza. Silêncio ante os louvores e a estima. Silêncio diante do desprezo, das preferências, das murmurações. Eis o silêncio da mansidão e da humildade.
-Silêncio da natureza ante a alegria e o prazer. A flor desabrocha no silêncio.
-Silêncio da natura no sofrimento e na contradição. Silêncio sobre os jejuns e as vigílias. Silêncio sobre o cansaço,  frio, o calor. Silêncio na saúde,  na doença,  na privação total. É o silêncio eloquente da verdadeira pobreza e da penitência.
-E o silêncio do eu humano, perdendo-se no querer divino.

8) silêncio do espírito
-Afastar os pensamentos inúteis, agradáveis,  muito humanos. Só eles pertumbam o silêncio do espírito.
-Nosso espírito quer a verdade, e nós lhe damos a mentira.
-O silencio do espírito,  em materia de fe, é contentar-se com as obscuridades da fe.
-Silêncio na intenção: pureza e simplicidade.
-Na meditação: silêncio da curiosidade; na contemplação: silêncio das potências da alma.
-Cale-se o orgulho.

9) silêncio do juízo
-Não julgar, não deixar transparecer a sua opinião.
-E o  silêncio dos perfeitos. É o silêncio dos anjos e arcanjos.

10) silêncio da vontade
-E o silêncio nas angústias do coração e nas dores da alma. É a alma que não pronuncia " por que?", "até quando?".
-E o silêncio do abandono. Silêncio dos mártires. Silêncio da agonia de Jesus.

11) silêncio consigo mesmo
-Não se escutar, não queixar-se, calar-se. Isolar-se, ficar a sós com Deus.
-E o silêncio do nada.

12) silêncio com Deus
-No começo (1) Deus dizia: " falar pouco as criaturas e muito comigo". Agora Deus diz: "não me fales".
-E o silêncio da eternidade. É a união da alma com Deus.


-Para rezarmos melhor e assim crescermos na fé,  precisamos exercitar o silêncio interior e exterior.

-Assim, a quietude, a simplicidade e o silêncio favorecem a oração vocal, mental e a meditação dos mistérios de Cristo no Rosário. A oração brota do coração com amor e fervor. Passamos a ter intimidade com Jesus e sua doce Mãe e aumenta nossa confiança na misericórdia do Senhor.

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